3 de dezembro de 2010

A volta do Rey de Copas?

Eis a última imagem da Recopa 2006: Martin Palermo, Rodrigo Palacio, Jesus Dátolo e Pablo Ledesma, abraçados junto a torcida xeneize que encheu a antiga geral amarela do Morumbi, festejavam a 16ª conquista internacional do clube mais popular da Argentina

Felipe Bigliazzi

O Morumbi se vestia de azul e amarelo pela 3ª vez na decáda - Libertadores 2000 e 2003, frente a Palmeiras e Santos. O Boca Juniors não apenas levava uma nova taça para casa como, também, se tornava o novo ‘Rey de Copas’. O termo que por décadas era clamado em cantos e bandeiras pelos torcedores do Independiente desvanecia com aquele petardo de Palermo que venceu Rogério Ceni e definiu a virada sob o futuro campeão brasileiro.

As provocações nos clássicos frente ao Boca fizeram os mais novos torcedores do Independiente procurar em sebos do Parque Rivadavia por aquela histórica edição da revista El Gráfico de 1995, que trazia a doce manchete: ”Independiente Bicampeón de La Recopa” - a última conquista internacional dos diablos rojos. O time comandado por Miguel Ángel Lopez fez uma campanha heroica. Nas oitavas de finais bateu o Santos de Giovanni e cia. A vaga veio nas penalidades, após dois empates - 1 a 1 em Avellaneda, e 2 a 2 na Vila Belmiro. A cinematográfica defesa de Mondragón na cobrança de Jamelli credenciava o Independiente para enfrentar o Nacional de Medellín.

Na 1ª partida: derrota por 1 a 0 em território cafeteiro. Na volta, na Doble Visera, (estádio rojo) com dois gols do canhoto Gustavo López, o Independiente eliminou os colombianos que contavam com o goleiro Higuita e o então bigodudo Aristizábal.

Na semifinal, nada mais, nada menos que um clássico contra o River Plate. Com dois gols de Enzo Francescoli, o conjunto millonario abria uma boa vantagem em Avellaneda. Eis que no final do cotejo apareceu o artilheiro cabeludo Tano Mazzoni, que com um doblete deixou o Independiente vivo para a volta no Monumental. Após um empate sem gols, o colombiano Mondragón se travestiu, mais uma vez, de herói na disputa de pênaltis, pegando a última cobrança de Amato e dando a vaga na final, ao então, Rey de Copas.

Ó último obstáculo era o Flamengo de Sávio e Romário que tentava a todo custo salvar o seu fracassado centenário. O 1º jogo foi na antiga Doble Visera e Mazzoni, como dizem os argentinos,: “La rompió!”. Abriu o marcador de cabeça no cobeço do jogo. No 2º gol - que marcaria a diferença no confronto - Mazzoni tabelou com o Pajáro Domizzi, que após receber passe genial de calcanhar, deu um sutil toque no canto esquerdo de Paulo Cesar: 2 a 0 com sabor de título. Na volta, nem mesmo o golaço de Romário no Maracanã serviu para tirar a última copa internacional do Independiente, que bravamente aguentou a pressão rubro-negra para dar a volta olímpica em terras cariocas.

Hoy dia

O atual momento do Independiente é controverso. Há menos de dois meses, os barrabravas explodiram contra o presidente Julio Comparada e parte do atual elenco. O estopim foi a humilhante goleada sofrida contra o Banfield na 7ª rodada do atual Torneio Apertura, que culminou com a destituição do técnico Daniel Garnero. O ídolo dos anos 90 que havia assumido a direção técnica no início da temporada dava lugar ao carismático e fanfarrão Turco Muhamed. O atual comandante do Independiente é uma figura ímpar.

Quando técnico do Huracán - clube em que foi ídolo como jogador e treinador - era um clássico deparar-se com o seu peculiar hábito de fumar o charutos cubanos na beira do gramado. Logo em sua estreia, o time deu uma resposta anímica, vencendo o arquirrival Racing por 1 a 0 . A vitória no clássico de Avellaneda determinava que o campeonato nacional havia acabado. A meta, então, era apostar tudo na Sulamericana e com um novo esquema tático - 3-1-4-2 - o clube eliminou Defensor Sporting, Deportes Tolima e LDU, até chegar a esta decisão contra o Goiás.

Turco Mohamed, como a maioria dos técnicos argentinos quando chegam a um clube em crise - trazendo na bagagem o sucesso pelo Colón de Santa Fé - postou o Independiente com uma linha de três defensores. O capitão Tuzzio foi quem mais agradeceu. Já no final de sua carreira, o ex-River encontrou seu melhor rendimento nos últimos anos, atuando como líbero. Os jovens Galeano e Velázquez - ambos surgidos nas categorias de base do clube - saem para o combate deixando Tuzzio na sobra.



Campeão pelo Banfield no Torneio Clausura de 2009, Roberto Battión, chegou ao Independiente para ser o volante central titular nesta temporada. Além de Battión, o meio campo formado por Mohammed tem os alas Mareque - lateral-esquerdo com passagens por River Plate e Porto - e Nicolás Cabrera - meia-direita, campeão argentino pelo Vélez Sarsfield. Nos pés de Cabrera surgem as jogadas mais perigosas do time, já que o ex-Racing é um especialista nas cobranças de escanteio A penúltima linha é formada por Fredes e Fernando Godoy. Hernan Freedes, que em sua 1ª passagem pelo clube chegou a atuar improvisado na lateral-direita, hoje tem a função de munuciar o ataque formado por Facundo Parra e Cuqui Silvera. A tola expulsão de Silvera em Goiânia - último remanescente do último titulo argentino do Independiente, em 2002 - serviu para instalar um grande problema para Mohamed, que conta com poucas opções de ataque em seu elenco. O mais provável é que entre a nova joia do clube: Patricio Rodriguez. O baixinho driblador chegou a ser elogiado por Ricardo Bochini (maior ídolo da história do Independiente)
que o indicou como seu sucessor.


Esta final da Copa Sulamericana - 1ª disputada no reformulado estádio Libertadores da América - tem um gosto especial para o Independiente. Igualar o Boca Juniors ainda não é possivel, pois com a volta de Riquelme, o club de la ribera levou a seguinte edição da Copa Libertadores e, posteriormente, a Recopa, somando três copas a mais que o rival de Avellaneda. No entanto, a conquista da Sulamerica 2010, se vier, servirá como uma esperança do Independiente começar a retomar o apelido de Rey de Copas. Não é preciso dizer que a metade azul de Porto Alegre e os alvinegros cariocas estão na torcida, ao coro de: Dale Rojo Dale Rojo!

2 de dezembro de 2010

Top 5 broxadas decisivas no caminho do penta

Dito, repetido, entoado como mantra. “Em pontos corridos, todo jogo é final”. A frase-mandamento está marcada com tinta verde neon, amarelo marca-texto, a la 3º uniforme do Palmeiras, na cabeça do torcedor. E assim não deveria diferir na cabeça de todo jogador

Quando mais de cem mil pessoas foram ao Vale do Anhangabaú festejar o 1º aniversário de três dígitos do clube mais popular de São Paulo, o elenco alvinegro prometeu dedicação à altura do fanatismo, dada a imensa prova de amor. Faltou ouvir melhor o clichê. E olha que não faltou experiência a um elenco com Ronaldo e Roberto Carlos, que, juntando as carreiras, somam oito títulos de campeonatos com pontos corridos.

Molhar os olhos pelas “entregadas” é discurso que nem o presidente do clube admite. Talvez o preço deva cair na conta dos atletas que fizeram campanha contra Adilson, e só voltaram a se sair bem em campo após sua demissão. Relembremos, ora pois, as cinco finais que provavelmente irão custar o título ao Corinthians, por ordem cronológica.

1x3 Atlético-GO, 10ª rodada - Serra Dourada
De um lado, o técnico ainda era Mano Menezes e o líder Corinthians permanecia como o último invicto do nacionalzão 2010. Do outro, o lanterna Dragão provava por que havia chegado à elite como candidato a bate-volta. Após nove rodadas, o improvável 1º revés da temporada desde a derrota no alagado Maracanã ficou marcado pela boa atuação do arqueiro Márcio e o pênalti desperdiçado por Chicão. No dia seguinte, o tricolor das Laranjeiras assumiria a ponta pela 1ª vez.

2x2 Ceará, 27ª rodada - Pacaembu
O sinal de alerta fora aceso no Parque São Jorge após a (esperada) derrota para o Inter e o empate com o Botafogo, com o gol do ex-corintiano Herrera mal anulado. Os três pontos contra o Ceará - à época, há cinco jogos sem vencer - eram certos na cartilha de todo alvinegro. No entanto, o que se viu nos contra-ataques às costas de Alessandro e Robeto Carlos - característica do esquema tático de Adilson - foi o brilho do veterano Magno Alves. Dali em diante, o time sem Ralf (contundido) e Elias (suspenso) se desorganizou mais que o habitual. Coube a Paulinho e Defederico (!) o papel de salvar a pátria, e camuflar a má fase com a igualdade.

1x2 Atlético-MG, 28ª rodada - Arena do Jacaré
Um Galo aflito na zona de descenso e com sede por vitória recebeu o cambaleante Corinthians, que via de olhos arregalados a crise se instaurar de vez no já não mais grande candidato à taça. A ansiedade e o nervosismo de um time repleto de improvisações desapareceram com o apito inicial, e um tranquilo Corinthians fez 1 a 0 com autoridade. Em meio aos gols desperdiçados pelo rival, o Atlético se reergueu e voltou ajustado por Dorival após o intervalo. Duas bolas paradas alçadas pelos donos da casa, e vistas de camarote pelos beques visitantes, bastaram para a virada mineira. Os comandados de Adilson perdiam outra boa oportunidade de ultrapassar os de Muricy com os 3 a 0 do Santos no Flu.

3x4 Atlético-GO, 29ª rodada - Pacaembu
Quatro partidas sem vencer eram o suficiente para a Fiel. O Paulo Machado de Carvalho viu com desconfiança os 11 que subiram do vestiário para enfrentar um Atlético Goianiense lutando para não cair. Entre os 11, os desprestigiados Thiago Heleno, Moacir e Souza mantidos da derrota para o xará mineiro do oponente. Com dois minutos, Leandro Castán iludiu os presentes. Em falhas bisonhas de Thiago Heleno e seus companheiros de sistema defensivo, o rubro-negro do cerrado transformou o 1 a 0 em 1 a 4. O vexame ainda foi amenizado pelo quase empate, mas a derrota acabou como a cereja no bolo da demissão de Adilson, que viu do vestiário seu funeral acompanhado em vigília e protestos da organizada. Menos de uma hora depois do apito final, a diretoria fechou o caixão.

1x1 Vitória, 36ª rodada - Barradão
Após todos os percalços, altos e baixos e as polêmicas de arbitragem, a maioria via no Vitória a partida mais difícil na reta final, já passados os testes de fogo frente São Paulo e Cruzeiro. O elenco unido sob a tutela de Tite e a boa fase de Ronaldo e Julio Cesar enfrentava um desorganizado combatente do rebaixamento. E mesmo com as ausências de B. César e Dentinho, o Corinthians começou melhor e logo liderava o placar. Mas veio a contusão do camisa 9, e o cansado meio-campo perdeu sua referência na frente. Num polêmico lance, Simon assinalou penal e (bola na) mão de Ralf - talvez preço do “pênalti” “sofrido” pelo fenômeno contra a raposa. O Vitória igualou e teve uma segunda etapa superior, retrato do espírito “tu não me atacas que não te ameaço”, de Tite. Simultaneamente, o gaúcho via o Flu assumir a liderança, talvez, de vez.


Adeus, capita

Neste domingo, a Fiel viu pela última vez de perto um dos jogadores mais vitoriosos a levar a braçadeira

Paulo Marcondes

Quando William Machado de Oliveira chegou ao Corinthians, anunciado ao fim do dramático ano (para os alvinegros) de 2007 como uma das primeiras apostas de Mano Menezes - que ainda levara as incógnitas Alessandro e Herrera dos termpos de Grêmio -, o zagueiro já apresentava 31 anos. William era o homem de confiança do futuro treinador da seleção brasileira, e o escolhido a capitanear o alvinegro de volta à elite do balípodo brasileiro.

O beque - que antes de Porto Alegre passou por clubes de 2º e 3º escalão - gozava de uma posição confortável no tricolor gaúcho, onde era o capitão do atual bicampeão estadual e vice da Libertadores. Com a não classificação dos gremistas à edição de 2008 da Libertadores, William encerrou seu ciclo no Olímpico e arriscou o trono para tentar brilhar no eixo Rio-São Paulo.

Mais que isso. William chegou ao Parque São Jorge para herdar a braçadeira do maldito Betão - um desses atletas que carregaram um peso maior que o merecido nas costas -, símbolo do descenso corintiano. Desembarcou para servir de pilar a um projeto que começava do zero no clube mais pressionado do país, e em seu momento mais delicado.

E deu certo.

Deu certo pois o quarto zagueiro encontrou em Chicão as características ideais para apoiar sua lentidão - cada vez mais latente, conforme sua trajetória confirmou - e unir seu excelente posicionamento com a rapidez e bons desarmes do camisa 3, um termômetro do futuro-recém-aposentado. William não alcançou o mesmo desempenho nas ausências de Chicão, embora este não fosse o único responsável pelo sucesso do primeiro.

O capitão culto e formado em economia, que sempre levantou a bandeira dos direitos trabalhistas dos futebolistas profissionais, trouxe uma figura calma, racional e serena a um ambiente usualmente conturbado. Segurou o rojão de perdas significativas como a Copa do Brasil’08 e a Libertadores no centenário - e até mesmo a fase negra no nacional atual. E dividiu a responsabilidade de porta-voz do grupo com Ronaldo depois da chegada do atacante.

Seu casamento com clube e torcida deu mais certo que o de alguns de seus renomados antecessores. Carlos Gamarra, por exemplo, viveu sua melhor fase na carreira na temporada (1998/99, 80 partidas e uma taça) em que defendeu o alvinegro. E mesmo que William dificilmente seja lembrado com mais carinho que o paraguaio, o capitão do centenário encerrará uma passagem de três anos, 156 jogos e três (ou quatro) títulos, uma fase marcada como o renascimento do Corinthians com seu rosto tatuado na capa. O capita deu seu toque de Midas à maldita herança de Betão.