19 de dezembro de 2010

O Brasil e os fracassos no Mundial de Clubes


Fazer feio no Mundial Interclubes não é novidade para os brasileiros, que tiveram alguns clubes virem o 'Projeto Tóquio' naufragar
Por Jeferson Augusto (@jefaugusto)

Você já conhece a cena. Tá lá você assistindo à Rede Vida e o Penápolis se engalfinhando em um disputado mata-mata da A-3 Paulista. Não demora muito para o câmera focalizar um cidadão envergando um cartaz manuscrito 'Rumo a
Tóquio' (mesmo quando a disputa internacional migrou para Yokohama o slogan foi usado fartamente pelos torcedores, que quando perceberam a mudança e passaram a grafar a outra cidade japonesa, a decisão tinha ido pra Abu Dabi; agora, quando já aparecem os primeiros fantasiados de sheikes na Copa do Brasil, o torneio volta para o Japão). Há a vertente do mesmo fato quando a Band passa o jogo de volta entre Sousa da Paraíba e Botafogo do Rio, pela Copa do Brasil, com a diferença de que quem levanta o cartaz é um torcedor alvinegro. Ser campeão mundial de clubes virou obsessão de todo time brasileiro. Do seu time de pelada do fim de semana ao Corinthians (brincadeirinha).
Nos últimos 30 anos a participação brasileira no Mundial de Clubes, a última etapa do tal 'Projeto Tóquio' (que virou 'Projeto Yokohama', 'Projeto Abu Dhabi'...), é verdade, já foi motivo de algumas glórias épicas, mas também representa muitos micos, fiascos e fracassos. Ou seja, ao parar na lenda Kidiaba e fracassar no Mundial o Inter não promoveu nenhum feito inédito pro Brasil.

Por uma questão de memória/paciência e critérios obscuros, deixemos de lado a derrota do Cruzeiro em 76, quando o Mundial era jogado em dois jogos, na Europa e na América do Sul (formato, que convenhamos, era bem mais legal) e abordemos as derrotas amarguradas apenas quando o Mundial de Clubes passou a ser tratada por Copa Toyota (ou 'Copa Carro', como alguns pejorativamente apelidaram o torneio).

O tal Projeto Tóqui
o se tornou sonho em algum momento entre as décadas de 80 e 90. Até então, um Carioquinha ali, um Paulistinha aqui, e se de lambuja viesse um Brasileiro, já significava soberania. Quem começou essa mudança de conceito foi o Flamengo, em 1981, que depois de copar a Libertadores, atropelou o Liverpool por 3 a 0, consagrando quase metade da Geração Voa Canarinho Voa, que um ano mais tarde seria alvo da cetra de Paolo Rossi.Em 1983 foi a vez do Grêmio se tornar mito com aquela que é talvez a melhor formação de quadrilha do futebol mundial de todos os tempos - ou você ousaria encarar Mário Sérgio, Renato Gaúcho, Paulo César Caju e de brinde o Hugo de León com a cara esfolada na capa da Placar? - , sob o comando de Valdir Atahualpa Espinosa. Os gaudérios encararam o Hamburgo, da Alemanha, e venceram por 2 a 1, com dois gols de Renato Portaluppi.

Depois, o Brasil passou em branco praticamente dez anos na América e sem nenhum time por os pés no Japão. Na década de 90, o Brasil passou a dar mais importância para as conquistas internacionais, muito por conta do bicampeonato do São Paulo em 92/93. E aí se seguiu uma sequência incrível de fiascos em terras japonesas por parte dos brasileiros.

1995- Grêmio 0 x 0 Ajax (3x4 nos pênaltis)
Depois do São Paulo de Telê em 92/93, o Brasil voltou a Tóquio em 1995, desta vez, com o mítico Grêmio pondo sua imortalidade à prova. Era o Felipão no banco, um maluco e posteriormente dublê de DJ (precursor de uma moda entre sub-celebridades) no gol (Danrlei), uma dupla de açougueiros na zaga (Adílson, que depois adotou o Batista, e o paraguaio Rivarola), resguardada por Dinho carniceiro (o mesmo que jogou a Copa Toyota com o São Paulo), Arce (outro paraguaio) na lateral e o maior casal 20 dos anos 90 no futebol: Jardel e Paulo Nunes. A meiuca tinha duas promessas nunca cumpridas do futebol brasileiro: Carlos Miguel e Arílson. Sendo que o primeiro ficou conhecido por sua dificuldade em se manter no peso e o segundo por duas grandes passagens pela seleção brasileira. A primeira, quando entrou em um amistoso contra a Argentina e foi expulso minutos depois. E a outra ainda mais sensacional: convocado para a
seleção pré-olímpica e entediado com as preleções de Zagallo, o meia gaúcho não pensou duas
vezes e fugiu da concentração pra disputar uma pelada.

Mas do outro lado havia o Ajax, com Van der Sar, irmãos De Boer, Davids, Kluivert, Overmars. Litmanen, o picareta Finidi e o mascarado Van Gaal como técnico. Os gaudérios até que conseguiram segurar a onda da base da seleção holandesa, até mesmo após Rivarola ser expulso. A derrota só veio nos pênaltis, por 4 a 3. Registre-se que nesse ano o jogo em Tóquio aconteceu à noite em horário local, de manhã no Brasil, numa quarta-feira, o que representou a perda da metade da graça que envolvia o jogo.

1997- Cruzeiro 0 x 2 Borussia Dortmund
Em 1997, pode-se dizer que aconteceu a primeira versão genuína de um 'Projeto Tóquio'. O Cruzeiro assumiu que a prioridade era conquistar pela primeira vez um título mundial, se preparou exclusivamente para o jogo, deixou o Brasileiro de lado (e quase caiu por isso), e mais, chegou a fazer contratações
específicas para levar ao Japão. E como um autêntico Projeto Tóquio brasileiro, o resultado foi um fiasco.
Pra começar o time do Cruzeiro já não era lá grandes coisas. É verdade que tinha Dida e João Carlos, que mais tarde seriam campeões com o Corinthians, mas com Vítor (bicampeão mundial pelo São Paulo e uma espécie de Forrest Gump do futebol nacional daquela década), Elivelton (outro ex-são-paulino de 92), os brucutus Ricardinho e Cleisson, além do enganador peruano Palacios. Só sendo muito cruzeirense pra acreditar que dava pra levar com um time desses. Ciente dessa fragilidade do elenco, os mineiros resolveram contratar, e aí conseguiram piorar o que já era ruim. Quem, em sã consciência contrataria quatro jogadores – a peso de ouro – para um jogo só, quando estes reforços se tratariam de Gonçalves, Alberto, Donizete Pantera e Bebeto? Sério, Gonçalves, zagueirão botafoguense, até chegou a jogar uma
Copa do Mundo, mas isso não dá pra ser considerado se a seleção era a de 1998, o técnico Zagallo, o titular Junior Baiano e seu colega de concentração o Zé Carlos. Alberto foi o precursor de uma especialidade do Atlético-PR: a de criar falsos laterais talentosos (depois veio o Alessandro, hoje Botafogo; e o mais recente fruto é Nei, que traz boas lembranças ao Mazembe). Já Donizete Pantera e Bebeto dispensam comentários.

O Borussia, para ser bem sincero, não me traz recordações de ser um time lá muito brilhante, cujo craque era um suíço (talvez tenha sido esse o raciocínio dos cruzeirenses: se um suíço pode resolver pra eles, por quê um combo botafoguense não faria isso pra nós?), o Chapuisat. Nos 90 minutos no Olímpico de Tóquio o Cruzeiro foi um arremedo de time e os alemães venceram por 2 a 0, decretando o fim do sonho azul.

1998- Vasco 1 x 2 Real Madrid
No ano seguinte, o Projeto Tóquio ganhou ainda mais importância por parte dos brasileiros. Por se tratar do ano em que comemorava seu centenário, um título mundial coroaria um ano perfeito para o Vasco, e de quebra igualaria as conquistas internacionais de seu maior rival. O time que tem o nome do heroico português repetiu a tática de priorizar o Mundial e deixar o Brasileiro de lado, e chegou a fazer uma 'aclimatação' de mais de dez dias no Japão.

Tem que se admitir que o Delegado Lopes, e sua indefectível camisa verde e calça bege, tinha um bom time em mãos. Carlos Germano era um goleiro ‘não fede nem cheira’ (não fechava o gol, mas também não entregava a rapadura); Mauro Galvão, um xerifão; Vágner foi um promissor lateral/ponta direita digno da escola Válber 'cartão vermelho em véspera de carnaval', inclusive nas proporções talento/confusão; Felipe sempre se deu bem no futebol do Rio (e só lá); Luizão era goleador e até Donizete Pantera se destacou naquele ano. A cereja do bolo era Juninho Pernambucano, o maestro da Colina. Em compensação, o elenco tinha o volante espacial Nasa, o zagueiro com nome de música de Roberto Carlos, Odvan, e adivinhem quem na reserva da lateral-direita? Ele mesmo, Vítor, o nosso Forrest Gump.

Do outro lado tinha o Real Madrid, com Roberto Carlos, Hierro, Sávio, o chorãozinho da Gávea, Mijatovic e Raúl. O maior goleador Merengue em Champions League, inclusive, fez o gol do título espanhol. Está na memória de muitos a imagem do camisa 7 madrilenho driblando meio mundo vascaíno e, como humilhação final, deixando o Odvan sentado antes de acabar com a versão Eurico Miranda de Projeto Tóquio.

1999- Palmeiras 0 x 1 Manchester United
Se um ano antes o Projeto Tóquio significava o auge do centenário vascaíno, para o Palmeiras ser campeão do mundo em 99 era fechar com chave de ouro algo iniciado anos antes, a Era Parmalat, onde a leiteria assumiu o Palestra Itália no início dos anos 90.

De novo, Felipão colocava
um time no Japão para tentar ser campeão mundial, e se em 1995 o time do Grêmio não primava pelo talento, dessa vez ele tinha pelo menos um jogador com capacidade de fazer a diferença, Alex cabeção (não vale falar que tinha dois, já que o Zinho fazia companhia a ele no meio). De resto, a aposta era no Felipão way of play mesmo: muito pontapé, correria e bola na área. A defesa era no mínimo de alta periculosidade, com os júniors baianos Roque Junior e o original; davam o resguardo César Sampaio e Galeano, que ninguém sabe ao certo o porquê dele estar ali. Arce e Paulo Nunes tinham a missão de abastecer a grande área, que no dia da Mundial tinha o colombiano Asprilla como titular (alguém tem uma explicação lógica pra se apostar nele?), mas que caso precisasse, tinha na reserva Oséas, o Ozéinha da Bahia, versão mais encorpada e de tranças do Jardel (analisando agora, Felipão montou praticamente uma república baiana no Parque Antarctica. Com Oséas, contabilizei pelo menos quatro jogadores da Boa Terra, tanto que um dos momentos mais notáveis daquele ano foi uma matéria sobre uma pelada entre Palmeiras e Chiclete com Banana, com os palmeirenses, incluindo Felipão, vestindo um abadá com uma flor gigante estampada no peito, possivelmente símbolo do CD lançado pelos baianos na época).

Já o lado europeu era represen
tado pelo Manchester United, com David Beckham (“ele não é tudo isso não”, na opinião de Galvão Bueno, na época), Scholes, Giggs, Roy Keane e Gary Neville. No lance que definiu a partida, Giggs cruzou, Marcão, talvez o grande herói daquele time depois de pegar os pênaltis na Libertadores, caçou borboleta, e Keane botou pra dentro. Vendo a ficha técnica daquele jogo, constata-se que Euller, o filho do vento, entrou no fim do jogo, a importância histórica disso é nula, mas serve para lembrar os palmeirenses que o costume de Felipão em apostar em jogadores não muito talentosos não começou com o Luan.
Portanto, colorados não tem que se envergonhar pelo papelão em Abu Dabi. A diferença é que os colorados só conseguiram ser piores (adaptando o lema riograndense de 'gaúcho melhor em tudo') do que Palmeiras, Cruzeiro Vasco e Grêmio.

14 de dezembro de 2010

O Beatle futeboleiro

A final da FA Cup de 1952 consagrou o Newcastle como campeão. Em uma decisão dramática - decidida a seis minutos do final com um gol de cabeça do chileno Jorge Robledo - os Magpies superavam o Arsenal, conquistando assim o seu 5º título do torneio mais antigo do mundo. A peleja marcou o imaginário do pequeno John Winston Lennon.

Felipe Bigliazzi

Então com 11 anos, John já mostrava aptidão pelas artes e em plena sala de aula do Quarry Bank Grammar School fez um desenho retratando a jogada que decidira a Copa da Inglaterra em favor do Newcastle. Em 1974, John Lennon escolheu aquele singela gravura para fazer parte da capa de seu mais novo álbum, intitulado Walls and Bridges. Era o fim da lenda: Lennon jamais foi fanático, mas era sim um futeboleiro.

São tantas lendas por trás da vida dos demais Beatles que o futebol não poderia ficar de fora. O fato concreto é que George Harrison não dava a mínima ao esporte bretão. O caçula dos Beatles era um amante do automobilismo, tanto que virou amigo pessoal de Emerson Fittipaldi.

O primeiro a dar a cara pra bater foi Paul McCartney. O baixista quebrou o mistério sobre a equipe por qual torcia, quando foi ao estádio de Wembley para presenciar a final da FA Cup de 1968 entre Everton e West Bromwich. Demonstrando ser um grande pé frio, Paul amargou in loco a derrota do conjunto azul de Liverpool - o Everton - por 1 a 0. Segundo pesquisadores
beatlemaníacos, Ringo Starr era fã do Arsenal. Influenciado por seu padrasto - nascido no norte de Londres - o pequeno Richard era constantemente levado a Anfield e ao Goodison Park, quando os Gunners atuavam em Liverpool. Em meio a tanta curiosade, pouco se sabia sobre o interesse de John Lennon pelo futebol, até que chegou 1967.

O empresario dos Beatles, Brian Epstein, teria orientado os reis do iê iê iê a não divulgarem suas predileções clubísticas, a fim de não causar antipatia com as demais torcidas da Inglaterra. Por essas ironias do destino, um mês antes da morte de Epstein - em agosto de 1967, por overdose de tranquilizantes - os Beatles lançavam seu 8º albúm: o magnifico Sgt
. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Na enigmática capa, a banda do Sargento Pimenta posa pomposamente ao lado de personalidades ilustres.

Em meio a figuras como Albert Einstein, Bob Dylan e Marlon Brando, um desconhecido - pelo menos para a maioria dos beatlemaníacos - aparecia com sorriso de Monalisa e topete a la Itamar Franco. O personagem em questão atendia pelo nome de
Albert Stubbins. Não há explicação concreta para a escolha dos homenageados que ficaram eternizados no disco mais famoso dos Besouros. A história mais conhecida é que John Lennon teria sugerido Albert Stubbins por se tratar de um ídolo de seu pai ausente. Stubbins atuou pelo Liverpool FC entre 1946 e 1952, sendo o heroi da conquista dos Reds na temporada 1946/1947, quando o conjunto de Merseyside conquistou o titulo inglês após 24 anos de seca. Porém o lado de Lennon como torcedor do Liverpool viria a ser explicitado apenas no final de 1969.

Em Let it be - último disco lançando pelos Beatles - há outra menção futebolística de Lennon. Na curta e irreverente Dig It, John Lennon cita Matt Busby: "Like a Rolling Stone. Like the FBA and CIA. And the BBC . BB King and Doris Day. Matt Busby...".
O vitorioso treinador do Manchester United - principal rival do Liverpool - era homenageado de forma, no mínimo, irônica. Busby é o personagem transcendental na vida dos Red Devils. Antes de sua chegada, em 1946, o Man U tinha status de clube médio na Inglaterra, já que não conquistavam um titulo de expressão desde 1911. O conjunto vermelho de Manchester sairia da fila sob seu comando com a conquista do Campeonato Inglês de 1952 - o 1º dos cinco titulos nacionais do United sob direção de Busby.

Após sobreviver a tragédia de Munique, quando o avião que voltava de Belgrado - depois da classificação para final da Copa dos Campeões da Europa de 1958 - se chocou contra uma casa desabitada matando oito jogadores do elenco, Busby ficou gravamente ferido e teve que remontar aquela talentosa equipe.

Apenas em 1968 Busby teria seu ano de gloria e revanche contra o trágico destino que o abateu. Comandou magistralmente o Manchester United rumo a conquista da Copa dos Campeões da Europa daquela temporada. Os “Busby Babes” bateram o poderoso Benfica de Eusébio e cia. na final da principal competição europeia. Naquele brilhante esquadrão - que ainda contava com Bobby Charlton e Denis Law - um jovem e irreverente norte-irlandês se trasvestiu de heroi: o habilidoso George Best. Por seu corte de cabelo - semelhante ao da maioria dos rockstars britânicos dos anos 60 - e por seu comportamento arredio, ganhou o apelido de "O quinto Beatle".

No Mundial de 1966, o Brasil mandou seus três jogos da 1ª fase no campo do Everton - Goodison Park - em Liverpool. A envelhecida seleção nacional deu vexame na terra da rainha, deixando a competição prematuramente com derrotas para Hungria e Portugal. Já nos anos 70, quando Pelé foi a Nova York defender o glorioso Cosmos, surgiu a história de que os Beatles teriam sido barrados na concentração brasileira por terras inglesas. Em sua autobigrafia, o rei do futebol afirma que John Lennon, em encontro na Big Apple, teria se queixado do tratamento dos dirigentes brasileiros que negaram o encontro do Fab Fours com os principais astros da então seleção bicampeã mundial. Lorotas à parte, no dia em que se completa 30 anos sem John Lennon, fica a nossa homenagem ao Beatle mais futeboleiro de todos. Viva John!

3 de dezembro de 2010

A volta do Rey de Copas?

Eis a última imagem da Recopa 2006: Martin Palermo, Rodrigo Palacio, Jesus Dátolo e Pablo Ledesma, abraçados junto a torcida xeneize que encheu a antiga geral amarela do Morumbi, festejavam a 16ª conquista internacional do clube mais popular da Argentina

Felipe Bigliazzi

O Morumbi se vestia de azul e amarelo pela 3ª vez na decáda - Libertadores 2000 e 2003, frente a Palmeiras e Santos. O Boca Juniors não apenas levava uma nova taça para casa como, também, se tornava o novo ‘Rey de Copas’. O termo que por décadas era clamado em cantos e bandeiras pelos torcedores do Independiente desvanecia com aquele petardo de Palermo que venceu Rogério Ceni e definiu a virada sob o futuro campeão brasileiro.

As provocações nos clássicos frente ao Boca fizeram os mais novos torcedores do Independiente procurar em sebos do Parque Rivadavia por aquela histórica edição da revista El Gráfico de 1995, que trazia a doce manchete: ”Independiente Bicampeón de La Recopa” - a última conquista internacional dos diablos rojos. O time comandado por Miguel Ángel Lopez fez uma campanha heroica. Nas oitavas de finais bateu o Santos de Giovanni e cia. A vaga veio nas penalidades, após dois empates - 1 a 1 em Avellaneda, e 2 a 2 na Vila Belmiro. A cinematográfica defesa de Mondragón na cobrança de Jamelli credenciava o Independiente para enfrentar o Nacional de Medellín.

Na 1ª partida: derrota por 1 a 0 em território cafeteiro. Na volta, na Doble Visera, (estádio rojo) com dois gols do canhoto Gustavo López, o Independiente eliminou os colombianos que contavam com o goleiro Higuita e o então bigodudo Aristizábal.

Na semifinal, nada mais, nada menos que um clássico contra o River Plate. Com dois gols de Enzo Francescoli, o conjunto millonario abria uma boa vantagem em Avellaneda. Eis que no final do cotejo apareceu o artilheiro cabeludo Tano Mazzoni, que com um doblete deixou o Independiente vivo para a volta no Monumental. Após um empate sem gols, o colombiano Mondragón se travestiu, mais uma vez, de herói na disputa de pênaltis, pegando a última cobrança de Amato e dando a vaga na final, ao então, Rey de Copas.

Ó último obstáculo era o Flamengo de Sávio e Romário que tentava a todo custo salvar o seu fracassado centenário. O 1º jogo foi na antiga Doble Visera e Mazzoni, como dizem os argentinos,: “La rompió!”. Abriu o marcador de cabeça no cobeço do jogo. No 2º gol - que marcaria a diferença no confronto - Mazzoni tabelou com o Pajáro Domizzi, que após receber passe genial de calcanhar, deu um sutil toque no canto esquerdo de Paulo Cesar: 2 a 0 com sabor de título. Na volta, nem mesmo o golaço de Romário no Maracanã serviu para tirar a última copa internacional do Independiente, que bravamente aguentou a pressão rubro-negra para dar a volta olímpica em terras cariocas.

Hoy dia

O atual momento do Independiente é controverso. Há menos de dois meses, os barrabravas explodiram contra o presidente Julio Comparada e parte do atual elenco. O estopim foi a humilhante goleada sofrida contra o Banfield na 7ª rodada do atual Torneio Apertura, que culminou com a destituição do técnico Daniel Garnero. O ídolo dos anos 90 que havia assumido a direção técnica no início da temporada dava lugar ao carismático e fanfarrão Turco Muhamed. O atual comandante do Independiente é uma figura ímpar.

Quando técnico do Huracán - clube em que foi ídolo como jogador e treinador - era um clássico deparar-se com o seu peculiar hábito de fumar o charutos cubanos na beira do gramado. Logo em sua estreia, o time deu uma resposta anímica, vencendo o arquirrival Racing por 1 a 0 . A vitória no clássico de Avellaneda determinava que o campeonato nacional havia acabado. A meta, então, era apostar tudo na Sulamericana e com um novo esquema tático - 3-1-4-2 - o clube eliminou Defensor Sporting, Deportes Tolima e LDU, até chegar a esta decisão contra o Goiás.

Turco Mohamed, como a maioria dos técnicos argentinos quando chegam a um clube em crise - trazendo na bagagem o sucesso pelo Colón de Santa Fé - postou o Independiente com uma linha de três defensores. O capitão Tuzzio foi quem mais agradeceu. Já no final de sua carreira, o ex-River encontrou seu melhor rendimento nos últimos anos, atuando como líbero. Os jovens Galeano e Velázquez - ambos surgidos nas categorias de base do clube - saem para o combate deixando Tuzzio na sobra.



Campeão pelo Banfield no Torneio Clausura de 2009, Roberto Battión, chegou ao Independiente para ser o volante central titular nesta temporada. Além de Battión, o meio campo formado por Mohammed tem os alas Mareque - lateral-esquerdo com passagens por River Plate e Porto - e Nicolás Cabrera - meia-direita, campeão argentino pelo Vélez Sarsfield. Nos pés de Cabrera surgem as jogadas mais perigosas do time, já que o ex-Racing é um especialista nas cobranças de escanteio A penúltima linha é formada por Fredes e Fernando Godoy. Hernan Freedes, que em sua 1ª passagem pelo clube chegou a atuar improvisado na lateral-direita, hoje tem a função de munuciar o ataque formado por Facundo Parra e Cuqui Silvera. A tola expulsão de Silvera em Goiânia - último remanescente do último titulo argentino do Independiente, em 2002 - serviu para instalar um grande problema para Mohamed, que conta com poucas opções de ataque em seu elenco. O mais provável é que entre a nova joia do clube: Patricio Rodriguez. O baixinho driblador chegou a ser elogiado por Ricardo Bochini (maior ídolo da história do Independiente)
que o indicou como seu sucessor.


Esta final da Copa Sulamericana - 1ª disputada no reformulado estádio Libertadores da América - tem um gosto especial para o Independiente. Igualar o Boca Juniors ainda não é possivel, pois com a volta de Riquelme, o club de la ribera levou a seguinte edição da Copa Libertadores e, posteriormente, a Recopa, somando três copas a mais que o rival de Avellaneda. No entanto, a conquista da Sulamerica 2010, se vier, servirá como uma esperança do Independiente começar a retomar o apelido de Rey de Copas. Não é preciso dizer que a metade azul de Porto Alegre e os alvinegros cariocas estão na torcida, ao coro de: Dale Rojo Dale Rojo!

2 de dezembro de 2010

Top 5 broxadas decisivas no caminho do penta

Dito, repetido, entoado como mantra. “Em pontos corridos, todo jogo é final”. A frase-mandamento está marcada com tinta verde neon, amarelo marca-texto, a la 3º uniforme do Palmeiras, na cabeça do torcedor. E assim não deveria diferir na cabeça de todo jogador

Quando mais de cem mil pessoas foram ao Vale do Anhangabaú festejar o 1º aniversário de três dígitos do clube mais popular de São Paulo, o elenco alvinegro prometeu dedicação à altura do fanatismo, dada a imensa prova de amor. Faltou ouvir melhor o clichê. E olha que não faltou experiência a um elenco com Ronaldo e Roberto Carlos, que, juntando as carreiras, somam oito títulos de campeonatos com pontos corridos.

Molhar os olhos pelas “entregadas” é discurso que nem o presidente do clube admite. Talvez o preço deva cair na conta dos atletas que fizeram campanha contra Adilson, e só voltaram a se sair bem em campo após sua demissão. Relembremos, ora pois, as cinco finais que provavelmente irão custar o título ao Corinthians, por ordem cronológica.

1x3 Atlético-GO, 10ª rodada - Serra Dourada
De um lado, o técnico ainda era Mano Menezes e o líder Corinthians permanecia como o último invicto do nacionalzão 2010. Do outro, o lanterna Dragão provava por que havia chegado à elite como candidato a bate-volta. Após nove rodadas, o improvável 1º revés da temporada desde a derrota no alagado Maracanã ficou marcado pela boa atuação do arqueiro Márcio e o pênalti desperdiçado por Chicão. No dia seguinte, o tricolor das Laranjeiras assumiria a ponta pela 1ª vez.

2x2 Ceará, 27ª rodada - Pacaembu
O sinal de alerta fora aceso no Parque São Jorge após a (esperada) derrota para o Inter e o empate com o Botafogo, com o gol do ex-corintiano Herrera mal anulado. Os três pontos contra o Ceará - à época, há cinco jogos sem vencer - eram certos na cartilha de todo alvinegro. No entanto, o que se viu nos contra-ataques às costas de Alessandro e Robeto Carlos - característica do esquema tático de Adilson - foi o brilho do veterano Magno Alves. Dali em diante, o time sem Ralf (contundido) e Elias (suspenso) se desorganizou mais que o habitual. Coube a Paulinho e Defederico (!) o papel de salvar a pátria, e camuflar a má fase com a igualdade.

1x2 Atlético-MG, 28ª rodada - Arena do Jacaré
Um Galo aflito na zona de descenso e com sede por vitória recebeu o cambaleante Corinthians, que via de olhos arregalados a crise se instaurar de vez no já não mais grande candidato à taça. A ansiedade e o nervosismo de um time repleto de improvisações desapareceram com o apito inicial, e um tranquilo Corinthians fez 1 a 0 com autoridade. Em meio aos gols desperdiçados pelo rival, o Atlético se reergueu e voltou ajustado por Dorival após o intervalo. Duas bolas paradas alçadas pelos donos da casa, e vistas de camarote pelos beques visitantes, bastaram para a virada mineira. Os comandados de Adilson perdiam outra boa oportunidade de ultrapassar os de Muricy com os 3 a 0 do Santos no Flu.

3x4 Atlético-GO, 29ª rodada - Pacaembu
Quatro partidas sem vencer eram o suficiente para a Fiel. O Paulo Machado de Carvalho viu com desconfiança os 11 que subiram do vestiário para enfrentar um Atlético Goianiense lutando para não cair. Entre os 11, os desprestigiados Thiago Heleno, Moacir e Souza mantidos da derrota para o xará mineiro do oponente. Com dois minutos, Leandro Castán iludiu os presentes. Em falhas bisonhas de Thiago Heleno e seus companheiros de sistema defensivo, o rubro-negro do cerrado transformou o 1 a 0 em 1 a 4. O vexame ainda foi amenizado pelo quase empate, mas a derrota acabou como a cereja no bolo da demissão de Adilson, que viu do vestiário seu funeral acompanhado em vigília e protestos da organizada. Menos de uma hora depois do apito final, a diretoria fechou o caixão.

1x1 Vitória, 36ª rodada - Barradão
Após todos os percalços, altos e baixos e as polêmicas de arbitragem, a maioria via no Vitória a partida mais difícil na reta final, já passados os testes de fogo frente São Paulo e Cruzeiro. O elenco unido sob a tutela de Tite e a boa fase de Ronaldo e Julio Cesar enfrentava um desorganizado combatente do rebaixamento. E mesmo com as ausências de B. César e Dentinho, o Corinthians começou melhor e logo liderava o placar. Mas veio a contusão do camisa 9, e o cansado meio-campo perdeu sua referência na frente. Num polêmico lance, Simon assinalou penal e (bola na) mão de Ralf - talvez preço do “pênalti” “sofrido” pelo fenômeno contra a raposa. O Vitória igualou e teve uma segunda etapa superior, retrato do espírito “tu não me atacas que não te ameaço”, de Tite. Simultaneamente, o gaúcho via o Flu assumir a liderança, talvez, de vez.


Adeus, capita

Neste domingo, a Fiel viu pela última vez de perto um dos jogadores mais vitoriosos a levar a braçadeira

Paulo Marcondes

Quando William Machado de Oliveira chegou ao Corinthians, anunciado ao fim do dramático ano (para os alvinegros) de 2007 como uma das primeiras apostas de Mano Menezes - que ainda levara as incógnitas Alessandro e Herrera dos termpos de Grêmio -, o zagueiro já apresentava 31 anos. William era o homem de confiança do futuro treinador da seleção brasileira, e o escolhido a capitanear o alvinegro de volta à elite do balípodo brasileiro.

O beque - que antes de Porto Alegre passou por clubes de 2º e 3º escalão - gozava de uma posição confortável no tricolor gaúcho, onde era o capitão do atual bicampeão estadual e vice da Libertadores. Com a não classificação dos gremistas à edição de 2008 da Libertadores, William encerrou seu ciclo no Olímpico e arriscou o trono para tentar brilhar no eixo Rio-São Paulo.

Mais que isso. William chegou ao Parque São Jorge para herdar a braçadeira do maldito Betão - um desses atletas que carregaram um peso maior que o merecido nas costas -, símbolo do descenso corintiano. Desembarcou para servir de pilar a um projeto que começava do zero no clube mais pressionado do país, e em seu momento mais delicado.

E deu certo.

Deu certo pois o quarto zagueiro encontrou em Chicão as características ideais para apoiar sua lentidão - cada vez mais latente, conforme sua trajetória confirmou - e unir seu excelente posicionamento com a rapidez e bons desarmes do camisa 3, um termômetro do futuro-recém-aposentado. William não alcançou o mesmo desempenho nas ausências de Chicão, embora este não fosse o único responsável pelo sucesso do primeiro.

O capitão culto e formado em economia, que sempre levantou a bandeira dos direitos trabalhistas dos futebolistas profissionais, trouxe uma figura calma, racional e serena a um ambiente usualmente conturbado. Segurou o rojão de perdas significativas como a Copa do Brasil’08 e a Libertadores no centenário - e até mesmo a fase negra no nacional atual. E dividiu a responsabilidade de porta-voz do grupo com Ronaldo depois da chegada do atacante.

Seu casamento com clube e torcida deu mais certo que o de alguns de seus renomados antecessores. Carlos Gamarra, por exemplo, viveu sua melhor fase na carreira na temporada (1998/99, 80 partidas e uma taça) em que defendeu o alvinegro. E mesmo que William dificilmente seja lembrado com mais carinho que o paraguaio, o capitão do centenário encerrará uma passagem de três anos, 156 jogos e três (ou quatro) títulos, uma fase marcada como o renascimento do Corinthians com seu rosto tatuado na capa. O capita deu seu toque de Midas à maldita herança de Betão.

26 de novembro de 2010

Especial - Libertadores (2011) - Parte 1

Fique por dentro do que pode rolar na Champions League do 3º mundo! É com grande prazer que A Linha Burra inicia seus trabalhos com a nobre contribuição de nosso especialista em fútbol sulamericano, Felipe Bigliazzi

Canapés em Luque

Felipe Bigliazzi

A luxuosa sede da Conmebol, em Luque, no Paraguai, estava repleta. Nicolás Leoz e seus eternos puxa-sacos se esbaldavam com suculentos canapés, esperando as bolinhas definirem a sorte da próxima Libertadores. A entidade máxima do futebol sulamericano - tosca como só ela - consegue mesmo se superar. Com os campeonatos nacionais ardendo, a Conmebol definiu previamente as chaves do principal torneio interclubes, tornando a compreensão das chaves uma missão para Roberio de Ogum. É Peru 1 para lá, Equador 2 acolá, e um monte de interrogações que fazem da Libertadores uma eterna várzea.

Cornetagens à parte, podemos dizer que o principal prejudicado com este sorteio foi o Argentinos Juniors. O atual campeão argentino - e que teve a sua base desmontada após a saída de Claudio Borghi - caiu no grupo da morte, ao lado do Nacional de Montevidéu, do América do México e do próximo campeão brasileiro. A vida do clube do bairro portenho de La Paternal tem tudo para ser curta nesta Libertadores. Da equipe titular que levantou o troféu no estádio do Huracán, há exatos 12 meses, apenas cinco continuam no clube. São eles: Sabia, Prosperi, Oberman, Ortigoza - naturalizado paraguaio, que disputou a Copa do Mundo pela seleção guarani - e Mercier. O tridente sensação do ultimo campeonato argentino, Coria, Ismael Sosa e José Luis Calderón, seguiram em seus destinos, deixando o Argentinos Juniors. O meia-armador, Facundo Coria, se transferiu para o Villareal. Ismael Sosa, atualmente defende as cores do Gaziantepspor daTurquia, enquanto o máximo herói da conquista, José Luis Calderón, pendurou as chuteiras aos 39 anos. Sob o comando de Pedro Troglio - volante da seleção argentina na Copa de 1990 - o Argentinos Juniors faz campanha apenas regular no Torneio Apertura, onde ocupa a 11ª posição.

O Nacional do Uruguai - equipe que mais somou pontos ao longo de todas as edições da Copa Libertadores - vem forte na próxima temporada, a começar por seu treinador. Juan Ramon Carrasco é conhecido no Uruguai por seu ideal ultraofensivo, que fez do humilde River Plate de Montevidéu a sensação uruguaia das últimas temporadas. Comandando o clube de seu coração, Carrasco - como jogador defendeu o São Paulo no final dos anos 1980 - vem fazendo uma boa campanha no campeonato nacional (ocupa o 2º lugar, logo atrás do Defensor Sporting). O tricolor charrua conta em seu plantel com jovens promessas, como é o caso de Sebastián Coates. O zagueiro central já foi cobiçado por grandes clubes brasileiros após integrar o selecionado uruguaio. Robert Flores e Mirabaje formam a dupla de armadores do Nacional. Flores já teve passagem pelo futebol espanhol, além de uma fugaz campanha com a camisa do River Plate da Argentina. Mirabaje, que se destacou na última Libertadores defendendo as cores do Racing uruguaio, tem a chance de brilhar com a camisa do Nacional. O jovem teve oportunidade na equipe titular após a grave lesão de Marcelo Gallardo. O experiente meia argentino fraturou a perna e deve retornar aos gramados no inicio na próxima temporada.

O América do México conta com a 2ª torcida do país, assim como o investimento da Rede Globo (em termos de grandeza) asteca, a gloriosa Televisa, o que não deixa de ser um dado menor. Conta em seu caro elenco com o goleiro da seleção tricolor, Guillermo Ochoa, além de Pavel Pardo e José Martinez - ambos com passagens pela seleção. A dupla argentina formada por Matias Vuoso e Rolfi Montenegro é um dos trunfos das Aguilas, que ainda conta com a presença do ex-corintiano Rosinei. A equipe comandada pelo experiente Manuel Lapuente se classificou, no último dia 21, para as semifinais do campeonato mexicano, após bater o San Luis por 4 a 1.

Para engrossar o coreto neste grupo, nada mais, nada menos, do que o campeão brasileiro. A Conmebol, com suas politicagens mil, conseguiu colocar em um só grupo, o campeão argentino e o campeão brasileiro. Enquanto isso no Grupo 2, o Junior de Barranquilla - campeão colombiano - não precisará enfrentar nenhum campeão nacional. Viva a Conmebol, Nicolás Leoz e seus canapés de Luque.

12 de novembro de 2010

Pontapé inicial

Trio de arbitragem já no túnel do vestiário... sejam todos bem vindos e deixemos de cerimônia.