16 de março de 2011

A SAGA DE UM NOVO RACING

Por Felipe bigliazzi


Os fanáticos torcedores do Racing Club de Avellaneda, abrem o jornal e parecem não acreditar. Após anos de desespero e gozação, um dos cinco mais populares clubes da Argentina indica que voltará a disputar um titulo nacional - que não vem desde o Apertura 2001


A temporada 2007/2008 foi caracterizada como um divisor de águas na história recente do Racing. Com uma campanha paupérrima, a equipe comandada por Chocho Llop chegava a temida promoción com a vantagem de dois resultados iguais frente ao Belgrano para permanecer na máxima categoria do futebol argentino. No jogo de ida, em Cordoba, a Academia arrancou um duro empate por 1 a 1 e, na volta em Avellaneda, o gol de Maxi Moralez - em seu último jogo antes de ir para o Velez Sarsfield - decretou o fim da agonia.


Mais do que comemorar a permanecia, os racinguistas deixavam transparecer a esperança com o fim da nefasta gestão da Blaquiceleste S.A - empresa que gerenciou o Racing durante 10 anos com a obrigação de sanar as dividas do clube pós-falência decretada em 1999. Em Dezembro daquele ano, Fernando Molina venceria as primeiras eleições diretas do Racing - pós- Blaquiceleste S.A - e com a confiança de novos tempos, o clube voltava ao poder dos sócios.


Em sua posse, o flamante presidente afirmou: "Nos próximos 6 meses, vamos fazer uma auditoria e trazer 4 reforços de categoria que correspondam com a gloriosa história do Racing".

No torneio seguinte - Apertura 2008 - o conjunto albiceleste sob comando de Ricardo Caruso Lombardi, somaria 22 pontos, ficando na décima quarta posição no certame.


Estava claro, que apesar da ambição de sua nova diretoria, a realidade racinguista apontava para uma nova disputa para fugir da zona de promoción. No Clausura 2009, ainda sob comando de Ricardo Caruso Lombardi, o Racing faz uma bela campanha, terminando o torneio na quinta posição com 30 pontos, e assim, afastou o fantasma chamado promoción.


Com o clube um pouco mais consolidado na primeira divisão, chegou a hora de Rodolfo Molina afrontar a sua primeira temporada completa na condução do Racing - lembrando que na Argentina a temporada começa em Agosto - Porém, a trágica herança financeira da era Blaquiceleste, fizeram o Racing afrontar um duro inicio de temporada, que culminaria com uma pobre campanha no Apertura 2009 sob direção de Claudio Vivas - que assumiu após a renuncia de Caruso Lombardi em meados da competição.

Para o inicio do Clausura 2010, enfim, Fernando Molina cumpriu a promessa, quando trouxe jogadores de peso para o elenco: Gabriel Hauche, Lucas Licht e Claudio Bieler. Este último chegou a Avellaneda com pompa, graças aos gols que ajudaram a LDU a conquistar a Libertadores de 2008. No entanto, em sua primeira temporada, o centroavante não conseguiu liderar o ataque, tanto que no inicio deste ano, acabaria emprestado ao Newell's Old Boys de Rosário.


El Demonio Hauche, então, disputado por todos os grandes times da Argentina, foi contratado junto ao Argentinos Juniors, e assim como o seu companheiro de ataque, não conseguiu alcançar a regularidade esperada. O seu futebol só veio a aparecer no final do último campeonato. Eis que neste começo de ano, junto ao Payaso Lugüercio e ao colombiano Teo Gutierrez, vem formando um tridente ofensivo afinado.


Lucas Licht é um lateral/ala canhoto, formado nas categorias de base do Gimnasia La Plata. Após breve passagem pelo Getafe da Espanha, chegou a Avellaneda para ocupar uma lacuna importante pelo lado esquerdo do campo.

Contudo, após outro péssimo inicio, a diretoria do Racing decidiu dispensar Claudio Vivas, apostando na experiência de Miguel Ángel Russo.


O laureado treinador chegava a Avellaneda com o objetivo se salvar a temporada e somar o maior números de pontos que afastasse o clube da zona de promoción. Com um sistema agressivo o time de Avellaneda se recuperou, somando 29 pontos e terminando o Apertura 2010 na oitava posição. Miguel Russo - quem em 2007 havia trabalhado com Riquelme na conquista da Libertadores pelo Boca Juniors - detectou a falta de bons meio-campistas no elenco.


Eis que com a ajuda de um grupo de investidores, o Racing contratou - por 4,2 milhões de dólares - a nova jóia do futebol colombiano: Giovanni Moreno. Junto ao talentoso enganche, o clube foi buscar Patricio Toranzo - um dos destaques do Huracán, aclamado vicecampeão nacional sob comando de Ángel Cappa, no qual surgiram Defederico, Bollati e Pastore .

A boa campanha do Racing - 29 pontos e quinto lugar - rendeu boas exibições coletivas e um deslumbramento natural da torcida racinguista com o talento exuberante de Gio Moreno. Clássico, elegante e com presença goleadora, o meia cafeteiro indicava que o Racing iria brigar pelo titulo em 2011. Eis que na estreia do atual torneio Clausura - 1 a 0 contra o All Boys - o camisa 10 sofreu uma lesão no ligamento cruzado do joelho direito, que o deixará fora dos campos por 6 meses.


A notícia da gravidade da lesão foi um golpe na ilusão academica. Sem Gio Moreno - que também será um sério desfalque para a Colômbia na Copa América - o mais otimista dos racinguistas tinha a certeza que os deuses do futebol estavam pregando outra peça no sonho de conquistar o campeonato nacional.


No entanto, a chegada de outro colombiano acabaria mudando os rumos do Racing. Vindo do futebol turco, Teófilo Gutierrez, assim como o seu compatriota, chegava a Avellaneda, graças a um grupo de investidores que aportou 1 milhao e meio de dólares. Logo em sua estréia, dois gols de Teo Gutierrez deram a vitoria ao comandados de Russo no clássico contra o San Lorenzo.


Na sequência, uma contundente vitória por 4 a 3 em casa frente ao Olimpo de Bahia Blanca - com mais dois gols de Teo Gutierrez – demonstraram que o clube de Avellaneda iria brigar pela ponta. A confirmação do ótimo momento do Racing, veio na goleada de 4 a 0 frente ao Colón em Santa Fé, com outro doblete do goleador cafeteiro. Ainda na arquibancada, a barrabrava racinguista cantou pela primeira vez: “De La mano de Russo todos la vuelta vamos a dar


De fato o sucesso deste inicio de campeonato tem muito mérito de Miguel Russo. O treinador apostou em um esquema agressivo para substituir a ausência de seu grande craque – Gio Moreno. O Racing atua no 3-4-3. O tridente ofensivo formado por Lugüercio, Hauche e Teófilo Gutierrez tem sido fulminante . Hauche e Lugüercio são peças fundamentais ao esquema, pois recuam pelos lados do campo ajudando no combate aos laterais rivais.


Outra arma do Racing são as jogadas pelo lado direito com as subidas do ala, Ivan Pillud, contratado no fim de 2010, por empréstimo junto ao Espanyol de Barcelona. Pelo lado esquerdo o ala, Lucas Licht, faz uma sociedade interessante com Lugüercio. Justamente, El Payaso Lugüercio vive seu melhor momento no clube, tanto que tem o nome mais ovacionado pela Guardia Imperial - barrabrava do Racing – quando a equipe ingressa ao campo do Cilindro de Avellaneda.


A dupla de volantes do Racing vem atuando de forma esplendorosa, travando no meio de campo e chegando ao ataque com gols e passes entre linhas. Claudio Yacob, recuperado de lesão, foi a grande figura no jogo frente ao Colón, dando dois passes que resultaram em gol, enquanto Toranzo, ao lado de Pillud, fazem do lado direito do Racing sua fonte de saída.

O ponto fraco do Racing, vem da pouca experiência de seu goleiro - Jorge de Oliveira - e do tridente defensivo formado por Cahais, Martinez e Caceres. Porém, ao olhar para a tabela, o mais supersticioso dos racinguistas encontra uma linda coincidência. A tabela da última rodada indica que o clube de Avellaneda deverá enfrentar o Velez Sarsfield, em pleno bairro portenho de Liniers. A ilusão segue intacta, e o importante é saber que finalmente, o Racing tem condição de repetir as emoções daquela tarde de Dezembro de 2001.

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